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Estudos Embrapa
Estudos Embrapa

SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS EM PASTEJO* 
aspectos práticos para o seu uso na mantença ou ganho de peso 
.
 
RESUMO
O ajuste nutricional entre a curva de oferta das pastagens e a curva de demanda dos bovinos em pastejo é uma necessidade para se alcançar maior eficiência dos sistemas de produção de carne. Este ajuste pode ser feito com o uso da suplementação alimentar, entretanto, sua incorporação a estes sistemas depende de uma relação custo/benefício favorável. O objetivo desta palestra é discutir e sugerir medidas corretivas nos pontos de desequilíbrio dos sistemas de produção de carne a pasto, visando a otimização dos mesmos.
*Palestra apresentada no durante 11º Encontro de Tecnologias Para a Pecuária de Corte
Palácio Popular da Cultura, Campo Grande MS, 06 de outubro de 1999

INTRODUÇÃO

CURVA DE CRESCIMENTO SAZONAL NAS PASTAGENS

AMBIENTE RUMINAL

QUANDO SUPLEMENTAR

USO DO SAL PROTÉICO 
SAL PROTÉICO 1 - mantença 
SAL PROTÉICO 2 - +200 g/dia

MISTURAS MÚLTIPLAS 
RAÇÃO PARA "CREEP-FEEDING" 
MISTURA MÚLTIPLA PARA 1ª SECA (RECRIA) 
MISTURA MÚLTIPLA PARA ÉPOCA DE CHUVA 
MISTURA MÚLTIPLA PARA 2ª SECA (ENGORDA) 
MISTURA MÚLTIPLA PARA CONFINAMENTO

DISCUSSÃO FINAL

PONTOS BÁSICOS PARA SEREM LEMBRADOS

REFERÊNCIAS 
  
 

 


INTRODUÇÃO

A eficiência dos sistemas de produção de carne a pasto depende do potencial de dois componentes básicos: o valor forrageiro da planta, ou plantas que compõem a pastagem, e o tipo de animal, ambos limitados pelo meio ambiente (Figura 1). 

figura 1 
FIGURA 1. Interação Planta – Animal


O potencial forrageiro é o resultado de uma complexa interação entre a planta e o meio ambiente, afetando o valor nutritivo (composição química, digestibilidade, produtos da digestão) e o consumo de matéria seca (aceitabilidade, taxa de pastagem e disponibilidade). Já o potencial animal é uma função do indivíduo (idade, tamanho, sexo) e de genética, tendo como fator limitante para sua expressão, o meio ambiente (climático e/ou nutricional). 
 Para atender crescimento e ganho de peso, as exigências nutricionais do animal em pastejo são contínuas, e alcançadas através do consumo diário de matéria seca da pastagem (MS). Entretanto, a medida que a pastagem vai perdendo qualidade, maior tem que ser o consumo de MS, para compensar esta perda em nutrientes (Figura 2). Como o consumo depende da taxa de digestão e, conseqüente taxa de fluxo da MS para fora do rúmen, e ambos processos são limitados pela qualidade da pastagem, o consumo real acaba ficando bastante abaixo do consumo exigido (Figura 2). O resultado é baixo desempenho animal.

figura 2

FIGURA 2. Influência da qualidade da pastagem na exigência e consumo real de MS. (adaptado de PRATES, 1999)

 A qualidade de uma forragem é alterada à medida que a planta amadurece, e coincide com o início da estação da seca. As alterações na planta consistem em alongamento das hastes e floração, resultando em aumentos no teor de fibra e queda no teor de proteína, com a conseqüente redução no consumo.  
Desta forma, como é ilustrado na Figura 2, o animal em pastagem de baixa qualidade não consegue alcançar sua demanda em nutrientes para manter uma curva crescente de crescimento. Este fato pode estender a idade de abate, ou de primeira cria, para além dos 36 meses.  
Portanto, maior precocidade dos sistemas de produção de carne a pasto só será alcançado se houver um ajuste nutricional entre a curva sazonal de oferta das pastagens com a curva crescente de demanda do animal por nutrientes. E isto só será possível por meio do uso da suplementação alimentar.

 


CURVA DE CRESCIMENTO SAZONAL NAS PASTAGENS

 O efeito das variações climáticas sobre a qualidade das pastagens, pode ser quantificado em termos de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO). Embora o grau deste efeito possa variar de ano para ano, as tendências são repetitivas, e estão representadas na Figura 3.

figura 3

FIGURA 3. Variação sazonal no teor de PB e DIVMO da Brachiaria decumbens em sistema de pastejo contínuo.
Fonte: Euclides, V.P.B. (informação pessoal) 
Obs.: amostras coletadas simulando pastejo

Em parte, estas tendências sazonais podem ser controladas com o uso de pastagens anuais, associadas com as pastagens perenes (Thiago et al., 1997). Na Tabela 1 é mostrada uma comparação qualitativa entre estes dois tipos de pastagem.

TABELA 1. Composição da Brachiaria brizantha cv. Marandu, aveia e milheto em amostras simulando o pastejo. 
 

Estação do ano
Pastagem
MS (%)
% na MS
PB
DIVMO
P
Verão
Marandu
36,4
11,5
66,7
0,32
Milheto
17,1
17,1
74,0
0,31
Inverno
Marandu
53,7
5,8
47,0
0,27
Aveia
23,5
21,7
70,2
0,35
Fonte: Thiago et al. (1997)

Como pode ser observado, o valor nutricional das pastagens anuais é superior ao das pastagens perenes, inclusive durante o período das chuvas. Este fato sugere que é possível suplementar pastagens perenes com pastagens anuais, através de um manejo alternado de pastejo (Thiago et al., 1977). Entretanto, como alertaram os autores, este tipo de suplementação é dependente do clima, principalmente para a situação de inverno, e alterações no histórico normal de precipitação ou temperatura, podem resultar em produções extremamente baixas do pasto anual. Um outro problema é que, por serem anuais, exigem o plantio todo o ano. 
  
  

 


AMBIENTE RUMINAL

 O retículo-rúmen representa cerca de 85% do estômago de um bovino adulto e com uma capacidade de até 200 litros (Hill, 1988). A temperatura interna é constante (entre 39°C e 40°C) e o valor pH mantido entre 4,5 e 7 (valor médio de 6) graças à ingestão de grandes quantidades de saliva, principalmente durante o consumo de alimentos fibrosos. O meio é anaeróbico (pouca ou total ausência de oxigênio) e os nutrientes são adicionados em função do comportamento de pastejo, alternado com a ruminação, principal processo responsável pela redução do tamanho das partículas ingeridas. 

Um movimento regular e constante do retículo-rúmen mistura essas partículas recém-ingeridas com o conteúdo ruminal e direciona as menores do que 1mm (Poppi et al., 1980) para o orifício do retículo-omasal, seguindo sua trajetória pelo trato digestivo. A concentração dos produtos da digestão no retículo-rúmen, principalmente os ácidos graxos voláteis, é mantida em níveis constantes, através do processo contínuo de absorção pelas paredes ruminais. 

Estas condições ambientais são extremamente favoráveis para uma enorme proliferação de microorganismos (bactérias, protozoários e fungos), os quais permitem aos ruminantes utilizarem a fração não-solúvel (fibras) das pastagens. Em particular, o grupo das bactérias celulolíticas é quem confere aos ruminantes a capacidade de sobreviverem em dietas ricas em fibra. 

Entretanto, estas bactérias são sensíveis à ausência de nitrogênio (níveis de amônia no líquido ruminal não deveria estar abaixo de 150mg/l) (Preston & Leng, 1987) ou alterações no pH ruminal (pH abaixo de 6,2 podem limitar seriamente seu crescimento). O primeiro caso é conseqüência da queda no teor de PB na pastagem durante a seca (ver Figura 3). Já o segundo caso é conseqüência direta da presença do amido em rações para suplementação (Mould & Ørskov, 1981). Se estes dois aspectos não são analisados cuidadosamente, as respostas esperadas com a suplementação podem ser desastrosas. 
  
  

 


QUANDO SUPLEMENTAR

Se o objetivo da suplementação é fechar as lacunas deixadas pela curva sazonal de crescimento das pastagens, a estação do ano mais adequada para o seu uso seria a da seca. Na região Centro-Oeste, esta época ocorre entre os meses de junho à setembro, quando as pastagens estão maduras, com baixo crescimento (± 15% e 25% do crescimento anual para os panicuns e braquiárias, respectivamente) e baixos teores de nutrientes. 

De todos os nutrientes, nitrogênio é o mais limitante, e conseqüentemente, o de maior prioridade para suplementação. Sua presença na dieta do animal em pastejo é vital para manter o crescimento normal das bactérias ruminais, e a estabilidade desta população de bactérias no rúmen afeta diretamente a digestibilidade e o consumo (Egan & Doyle, 1985). 

Dessa forma, pode-se dizer que para a estação de seca, quando os teores de PB das pastagem estão abaixo de 7% (base na MS), o primeiro objetivo da suplementação seria atender à demanda das bactérias ruminais por nitrogênio. Essas bactérias, fortalecidas, serão capazes de extrair energia da pastagem ingerida pelo animal, através do processo de digestão. 

Essa situação é alcançada usando-se de fontes protéicas de alta degradabilidade no rúmen (alto valor de proteína degradada no rúmen, PDR), tais como a mistura uréia + sulfato de amônio (85% e 15%, respectivamente). A resposta animal esperada seria em termos de mantença ou leve ganho de peso vivo (até 200 g/an./dia), dependendo da disponibilidade da pastagem. 

O suplemento a ser utilizado é essencialmente protéico, e popularmente conhecido como “Sal Protéico”. Isto porque na sua composição, o sal comum pode participar de 10%-30% (base matéria fresca), e serve para manter o consumo entre 600 e 300 g/an./dia. É uma alternativa de baixo custo para suplementação alimentar do gado na época da seca. 

A substituição do sal comum e a inclusão neste suplemento de uma fonte energética (milho, sorgo, aveia) pode aumentar o desempenho animal para até 600 g/an./dia. 

Novamente, a disponibilidade da pastagem é um fator essencial para se alcançar esse desempenho, associado com o consumo diário do suplemento, que pode variar de 0,3%-1,0% do peso vivo. Este suplemento é conhecido popularmente como “Mistura Múltipla”. 

Ao contrário do sal protéico, a mistura múltipla pode também ser utilizada durante o período das chuvas, se o objetivo for alcançar ganhos acima do potencial da pastagem (aproximadamente 600 g/an./dia). Nessa época do ano, a disponibilidade de nitrogênio para as bactérias ruminais, normalmente não é um fator limitante, e a energia passa a ser uma prioridade de suplementação. 

Se no período da seca o objetivo da suplementação protéica é atender as bactérias ruminais, nas águas, esta deverá atender diretamente o animal, através de fontes protéicas de baixa degradabilidade (baixo valor PDR). Exemplos de fontes protéicas de baixa degradabilidade são: farinha de carne, farinha de peixe, farelo de algodão etc.

 


USO DO SAL PROTÉICO

 Do ponto de vista prático, os bovinos possuem a capacidade de usar tanto proteínas naturais (farelos, forragens etc.) como o nitrogênio não protéico, ou NNP, existente na uréia + sulfato de amônio (85% de uréia + 15% de sulfato de amônio). 

Entretanto para que isto ocorra, é necessário que exista na dieta uma quantidade adequada de carboidratos solúveis (energia). 

Quanto mais uniforme for a liberação de amônia (hidrólise do NNP) e a de carbono (digestão dos carboidratos), maior vai ser a eficiência de síntese microbiana e, conseqüentemente, desempenho animal. 

Não havendo uma disponibilidade adequada de carboidratos no momento da liberação da amônia no rúmen, esta amônia não será incorporada à massa microbiana, sendo então, absorvida do rúmen para dentro da corrente sangüínea e, posteriormente, eliminada pela urina. Este processo metabólico é indesejável, pois requer o uso de energia que poderia, de outra forma, ser utilizada para a produção.

Um outro aspecto é que se a liberação de amônia no rúmen ultrapassar a capacidade de metabolização do animal (acima de 75 mg/100 ml de líquido ruminal), vão ocorrer problemas de intoxicação, podendo inclusive levar o animal à morte. Portanto, a participação do NNP na dieta é função do nível energético da mesma. 

Por exemplo, em animais alimentados exclusivamente com grãos, a eficiência de utilização do NNP pode chegar próximo a 100%. Já com dietas de baixa qualidade, caso das pastagens na seca, esse nível de eficiência cai para 20%. Isto precisa ser considerado no momento de se balancear uma dieta e tomar decisões de quanto NNP poderá substituir a demanda total de proteína. 

Aparentemente, níveis de substituição de até 40% da proteína natural pelo NNP não afeta o consumo de pastagens na seca (Köster et al., 1996). Entretanto, apenas com níveis de substituição abaixo de 25%, desempenho animal serão aproximadamente similares à suplementos sem uréia (Cochran et al., 1998).

SAL PROTÉICO 1 - mantença

A forma mais simples e prática de se suplementar NNP para animais em pastejo, seria através da mistura mineral, considerando-se que após corrigida a deficiência protéica, a presença de fósforo e outros minerais se faz necessária para manter as funções metabólicas normais. 

O nível de NNP pode alcançar até 50% da mistura mineral (Haddad, 1984). Entretanto, normalmente o consumo dessa mistura acaba sendo muito baixo, devido à baixa palatabilidade do NNP ou aglutinação e empedramento da mistura no cocho. 

Por essa razão, surgiu o sal protéico, que, além do NNP e mistura mineral na sua composição, inclui também um farelo protéico. Esse ingrediente, além de adicionar fontes extras de nutrientes (proteína e energia), funciona também como palatabilizante. 

O objetivo fundamental do uso do sal protéico é suprir a deficiência de nitrogênio das bactérias ruminais. Isto ocorrendo, vai haver um aumento no consumo da pastagem e conseqüente maior ingestão de nutrientes, revertendo uma situação de perda de peso para mantença de peso. Abaixo é dado um exemplo dessa mistura:

SAL PROTÉICO 1

 

INGREDIENTES
PERCENTUAIS, base matéria fresca
Farelo de soja
63,8
Uréia + Sulfato de amônio
10,6
Mistura mineral
9,6
Sal comum
16

Essa mistura tem um teor de 58% de PB, com 40% de substituição do PDR por NNP. Consumo diário por animal deveria ficar entre 300 g – 400 g. Ajustes podem ser feitos variando a quantidade do sal comum. Admitindo um consumo diário de 350 g, o custo por animal será igual a R$ 0,10. Uso durante a estação seca (PB na pastagem abaixo de 7%). Desempenho animal: mantença.

SAL PROTÉICO 2 - 200 g/dia

Podem ocorrer situações em que não há resposta animal ao uso do sal protéico 1. Este seria o caso em que as pastagens, quando bem manejadas (carga animal adequada), apresentam boa disponibilidade de massa no início da seca. Isso permite que o animal em pastejo selecione uma dieta com mais de 7% de PB. 

Esta última situação está de acordo com o conceito básico para o uso do sal protéico, qual seja, respostas não serão obtidas quando as condições qualitativa e de disponibilidade da pastagem, permitam ao animal manter o peso vivo. 

Para estas situações, o uso do sal protéico 2, com um consumo um pouco acima do anterior é recomendado. O objetivo seria alcançar ganhos de até 200 g/ani/dia.

SAL PROTÉICO 2

INGREDIENTES
PERCENTUAIS, base matéria fresca
Milho moído
28
Farelo de soja
45
Uréia + Sulfato de amônio
6
Mistura mineral
10
Sal comum
11

Essa mistura tem um teor de 40% de PB, com 20% de substituição do PDR por NNP. Consumo diário por animal deveria ficar entre 500 g – 600 g. Ajustes podem ser feitos variando a quantidade do sal comum. Admitindo um consumo diário de 550 g, o custo por animal será igual a R$ 0,14. Uso durante a estação seca.

Uma condição extremamente importante para se iniciar o uso do sal protéico, é que o pasto apresente massa suficiente para suportar todo o período de suplementação, incluindo o provável aumento no consumo deste pasto devido à suplementação. 

Exemplos práticos para o uso do sal protéico, seria o de manter as condições corporais de novilhas e vacas de cria, ou peso de novilhos que serão abatidos no início do próximo período de chuva. Não é uma medida adequada para se alcançar ganho de peso, mas sim mantença. 

Em se pensando em custo, lembrar que na época da seca, proteína é o nutriente limitante e por esta razão, o uso do sal protéico normalmente apresenta um maior retorno econômico, quando comparado à suplementação protéica/energética (Wagner, 1989). Este último suplemento é popularmente conhecido como Mistura Múltipla, e será discutido a seguir.

 


MISTURAS MÚLTIPLAS

Misturas múltiplas são suplementos balanceados para atender a uma determinada demanda de ganho de peso vivo durante todo o ano. Portanto, atendem múltiplas deficiências nutricionais do animal em pastejo, isto é, proteína, energia e minerais.

Desta forma, o seu uso esta sempre associado com ganhos de peso,  mas dependendo da quantidade fornecida, pode ocorrer uma substituição da pastagem pelo suplemento. Este é um fator indesejável, pois aumenta muito o custo do ganho do peso. A substituição ocorre, porque as bactérias ruminais atacam primeiramente fontes mais solúveis de alimentos, caso do amido que existe nos grãos, em detrimento de componentes menos digeríveis, como a fibra das pastagens.

Segundo Herd (1997), um consumo de suplemento equivalente até 0,3% do peso vivo, é totalmente adicionado ao da pastagem. De 0,3 – 1% do peso vivo, para cada 500 g fornecida do suplemento, ocorre uma redução no consumo da pastagem de aproximadamente 300 g (ambos base MS).O desempenho animal a ser alcançado depende de dois fatores principais:

1- disponibilidade e qualidade do pasto; 
2- econômico.
Atualmente o maior uso das misturas múltiplas, está sendo na engorda de bovinos para o abate ao final do terceiro período de seca (aproximadamente aos 36 meses de idade, sistema conhecido como semiconfinamento). 

A antecipação da idade de abate ou primeira cria para 22 - 24 meses, seria a segunda maior demanda. Em se pensando no sistema de produção do novilho de 22 – 24 meses, será apresentado a seguir o esquema proposto por Encarnação & Silva (1997).

RAÇÃO PARA "CREEP-FEEDING"

No Brasil Central, o nascimento de bezerros ocorre normalmente entre agosto e outubro, provenientes de uma estação de monta de novembro a janeiro. A desmama acontece entre fevereiro e abril (6 - 7 meses). Dentro desta fase inicial da cria, é possível se efetuar a primeira suplementação do bezerro, denominada de “creep-feeding” ou cocho privado. Consiste no fornecimento de uma ração para os bezerros na fase de aleitamento, iniciando já a partir dos 30 dias de idade.

RAÇÃO PARA "CREEP-FEEDING"

.....
Ingredientes
%
Grão de milho (sorgo, aveia) triturado
70
Farelo de soja
27
Mistura mineral
3
Composição: PB = 20%; NDT = 82%.

 Oferecer essa ração à vontade. Se o consumo exceder 1,5 kg/an./dia, adicionar na ração sal comum, na proporção de 7% – 10%, ou limitar a oferta diária manualmente, oferecendo um espaço de 20 cm lineares de cocho por animal. O custo  desse suplemento é de R$ 0,21/kg. Essa suplementação deveria permitir aos bezerros alcançarem peso à desmama de aproximadamente 200 kg.

MISTURA MÚLTIPLA PARA 1ª SECA (RECRIA)

Após a desmama, os bezerros permanecerão em regime de pasto exclusivo até junho, quando então iniciam um novo período de suplementação. Para esse período, que se estenderá até o final da seca (outubro), sugere-se outra mistura múltipla com a seguinte composição:

MISTURA MÚLTIPLA PARA 1ª SECA (RECRIA) 
  .

Ingredientes
%
Grão de milho moído
60
Farelo de soja 
31
Uréia + Sulfato de amônio
4,0
Mistura mineral
2,7
Calcário calcítico
2,3
Composição: PB = 31% NDT = 76%

Oferecer essa ração diariamente em cochos, iniciando com 0,3% do peso vivo. Aumentar à medida que a disponibilidade de massa comestível da pastagem for diminuindo, alcançando uma oferta máxima de 1% do peso vivo. O custo por kg desse suplemento é de R$ 0,22.

Para evitar competição e uma melhor distribuição do consumo entre animais, recomenda-se espaço de cocho entre 30 a 40 cm lineares/animal, e/ou a adição de sal comum (±10% da mistura). Isto é importante para padronizar o ganho de peso do lote suplementado. 

Lembrar que quando sal comum é utilizado em qualquer mistura, não pode faltar água para os animais, pois esta é veículo para eliminação do excesso de sódio proveniente do sal.

O uso do calcário calcítico é para prevenir possíveis problemas de acidose ( consumo do concentrado) e também, evitar relação Ca:P na dieta abaixo de 1:1.

MISTURA MÚLTIPLA PARA ÉPOCA DE CHUVA

Ao final desse período (outubro) os animais deveriam alcançar os 260 kg de peso vivo (ganho diário de 400 g/an.). Retornariam então a um sistema de pastejo exclusivo, por um período de 7 meses (novembro – maio), quando deveriam alcançar os 376 kg de peso vivo aos 20 meses de idade (ganho médio diário de 550 g/an.). 

Se o sistema exigir durante esse período ganhos acima deste valor, isso só será possível através do uso de uma terceira mistura múltipla, apropriada para a época das chuvas:

MISTURA MÚLTIPLA PARA ÉPOCA DE CHUVA

...
Ingredientes
%
Grão de milho moído
75,7
Farelo de algodão
15,1
Uréia + Sulfato de amônio
3,2
Mistura mineral
3,2
Calcário calcítico
2,8
Composição: PB = 22% NDT = 74%

Essa ração foi balanceada para atender um ganho médio de 700 g/an./dia, se fornecida na base de 2,0 kg/na./dia (base MS). O custo por quilograma deste suplemento é de R$ 0,20.

Para adequa-la à sazonalidade das pastagens e ao mesmo tempo reduzir custos, essa mistura múltipla deveria ser fornecida apenas a partir do mês de fevereiro, quando a digestibilidade e disponibilidade das pastagens começam a cair (ver Figura 2) e,  conseqüentemente, o ganho de peso.

O uso do farelo de algodão (PDR = 49%) no lugar do farelo de soja (PDR = 67%) deve-se à menor degradabilidade da PB do primeiro. Como o teor de proteína das pastagens nessa época não é uma prioridade, a quantidade de proteína que passa pelo rúmen para ser degradada no abomaso é um fator que contribui para melhorar o desempenho animal.

MISTURA MÚLTIPLA PARA 2ª SECA (ENGORDA)

Supondo-se que os animais no nosso exemplo, não tenham sido suplementados no período das chuvas, o peso vivo no início de maio será de 376 kg (idade média de 20 meses). A partir deste ponto, cabe ao proprietário decidir por uma das duas opções de engorda:

1) confinar; 
2) suplementar em pasto (semiconfinamento).
Esta decisão deve ser tomada visando um peso mínimo de abate de 460 kg e espessura de gordura de carcaça entre 3 mm – 4 mm. Em se pensando na suplementação em pasto, a seguinte mistura múltipla é sugerida:

MISTURA MÚLTIPLA PARA 2ª SECA (ENGORDA) 
.

Ingredientes
%
Grão de milho moído
80,0
Farelo de soja 
15,0
Uréia + Sulfato de amônio
2,5
Carbonato de Cálcio 
1,5
Mistura Mineral
1,0
Composição: PB = 22% NDT = 80%

Oferecer essa ração na base de 0,8% a 1% de peso vivo, de preferência duas vezes ao dia. Cochos com espaço de 60 cm lineares/animal. O custo por quilograma deste suplemento é de R$ 0,19.

Esse sistema de alimentação deveria permitir ao animal alcançar um ganho aproximado de 500 g/an./dia, desde que haja pasto em disponibilidade. Desta forma, o peso vivo para abate será alcançado após um período de 168 dias de suplementação (460 – 376 = 84/0,500 = 168 dias), com idade aproximada de 27 meses. Nessas condições o animal pode usufruir das vantagens econômicas oferecidas pelo programa denominado Novilho Precoce.

MISTURA MÚLTIPLA PARA CONFINAMENTO

Se a opção for pela engorda em confinamento, é necessário que haja instalações apropriadas (curral a céu aberto, 15 m²/animal e 60 cm lineares/animal de cocho, grupos de 30 – 50 cabeças), volumoso (silagem de sorgo ou de milho) e o seguinte concentrado:

MISTURA MÚLTIPLA PARA CONFINAMENTO 
.

Ingredientes
%
Milho moído
83,1
Farelo de soja
9,6
Uréia + Sulfato de amônio
3,4
Mistura mineral
2,0
Calcário calcítico
1,9
Composição: PB = 22% NDT = 79%

A silagem é fornecida à vontade, duas vezes ao dia. O concentrado, também duas vezes ao dia, e na base de 1% do peso vivo. 

Usar um período de 12 dias para adaptação dos animais ao concentrado: 25%, 50% e 75% do total de concentrado a ser fornecido, espaçados de 4 dias cada. A partir do 13o dia iniciar com 100% do total de concentrado. 

O custo por quilograma deste suplemento é de R$ 0,19. O ganho de peso médio esperado é da ordem de 1.200 g/an./dia. Desta forma, o período necessário para alcançar o peso de abate será reduzido para 70 dias (incluindo período de adaptação). 
  
  

 


DISCUSSÃO FINAL

A condição para a adoção da suplementação dentro dos sistemas de produção de carne é que a mesma atenda uma relação custo/benefício favorável. O princípio básico para o seu uso com sucesso é que a mesma venha a interagir com a pastagem de modo a maximizar o seu uso pelos animais (aumento na digestibilidade e consumo).

Lembrar que os suplementos concentrados, em geral, são caros e o seu uso com ruminantes não é tão eficiente, em termos metabólicos, como o são com suínos e aves, além de competir com humanos.

Entretanto, se se considerar que a pastagem seria mal utilizada (ausência de nutrientes) ou mesmo perdida (excesso de palhada ao final da seca) pela falta de um suplemento, pode-se argumentar que os ruminantes podem também vir a ser um eficiente utilizador do mesmo.

É essencial que a pesquisa indique curvas de resposta à suplementação, mas também é extremamente importante que as bases de manejo de uma pastagem (adubação e carga animal) sejam mais praticadas pelo pecuarista.

A suplementação de animais jovens como bezerros mamando ("creep-feeding") ou após desmama (suplementação 1ª seca) precisa ser criteriosamente analisada tanto pelo fator econômico (custo do suplemento) como biológico (ganho compensatório).

O ganho compensatório consiste num aumento na taxa de ganho de peso, que normalmente ocorre após um período de subnutrição e sua magnitude é função da natureza, severidade e extensão do período de subnutrição e tipo de alimentação no período subseqüente. O resultado é que animais não suplementados podem alcançar o mesmo peso de animais suplementados ao final do período de pastejo das águas (Tundisi et al., 1966). 
  
  

 


PONTOS BÁSICOS PARA SEREM LEMBRADOS

1. O objetivo principal da oferta de proteína e/ou energia para animais em pastejo é suplementar, mas não substituir a forragem.

2. A deficiência de proteína no rúmen é o fator primário limitando produção de animais em pastejo na seca.

3. Durante a seca, se energia é fornecida sem a devida complementação com proteína (NNP ou proteína natural), o desempenho animal será prejudicado.

4. Níveis de suplementação além de 30% do consumo total de MS, vai resultar em substituição da forragem pelo concentrado.


REFERÊNCIAS

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